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Estabelecimentos encampam resistência de árvores em Prudente

Publicada em 07/11/24 às 18:22h - 36 visualizações

por ROGÉRIO MATIVE - Portal Prudentino


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 (Foto: ROGÉRIO MATIVE - Portal Prudentino)
A cada dia, uma nova árvore é assassinada para dar espaço a fachadas comerciais ou, simplesmente, evitar a necessidade de uma mera varrição. Vista como uma das cidades mais arborizadas do Estado até a década de 1990, Presidente Prudente segue a passos largos no processo de concretagem total dos passeios públicos.

Nos últimos anos, espécies como Sibipirunas, Pau-ferro e Chapéu de Couro tornaram-se alvos preferidos daqueles que justificam a impossibilidade de manter árvores nas calçadas. Com isso, arcos verdes que marcavam a paisagem de ruas da área central sumiram, como Dr. Gurgel, Rui Barbosa e Avenida Washington Luís.

Contudo, há quem segue na contramão do progresso urbanístico que escanteia o meio ambiente. O que para a maioria é empecilho, para alguns estabelecimentos prudentinos é a oportunidade de integração arquitetônica e, ao mesmo tempo, bem-estar aos clientes ao sugestionar respeito ao verde originário.

"É louvável e recomendada a decisão de manter ou plantar árvores nas cidades. Isso porque a arborização urbana é essencial na regulação do clima, na manutenção da qualidade do ar e do bem-estar humano", opina a arquiteta e urbanista Juliana Barreto. 

O agente de educação ambiental do Sesc Thermas, Carlos Eduardo Lobo, acredita que as árvores serão mais valorizadas nos próximos anos, especialmente em ambientes urbanos. "São poucas as iniciativas em que a gente consegue ver a sua valorização de fato. A maioria das pessoas tem uma certa fobia de árvore: não querem plantar, não deixam crescer, querem apenas de pequeno porte, reclamam da sujeira etc". 

No Dia da Árvore, comemorado neste sábado (21), levantamento feito pelo Portal identificou alguns casos de bons exemplos, que estão listados abaixo. Se você conhece mais algum, mande sugestão com dados para incluirmos na matéria no campo de "comentários" no rodapé do texto.

No alto do morro

Para quem passa com um olhar mais atento pelo cruzamento entre as avenidas Juscelino Kubitschek de Oliveira e Alvino Gomes Teixeira observa uma imponente árvore da espécie Farinha-Seca, que reina tranquilamente do alto do morro que a sustenta entre as 350 vagas de estacionamento da unidade do Muffato Max Atacadista do Jardim Guanabara.

"Sempre tentamos ter uma visão holística e achar o equilíbrio entre as duas coisas [desenvolvimento e meio ambiente]. Aquela árvore é simbólica e está em várias fotos do grupo. Usamos ela em materiais institucionais pela beleza que ficou e pelo simbolismo que ela tem de preservação. No Paraná, temos Araucárias no meio de lojas, que não tiramos do projeto, apenas adaptamos. A gente não fez isso para ser reconhecido, mas ser percebido é importante. E esse reconhecimento reforça nosso objetivo em trabalhar na preservação", diz o diretor do Grupo Muffato, Everton Muffato. 

Foto: Rogério Mative/Portal

Nos 13 mil m2 de área construída, foram investidos R$ 40 milhões sem direito a mexer na árvore. "Vem como proposta e filosofia de família, de grupo. Temos uma pauta social muito forte. E um dos projetos nossos é no auxílio do desenvolvimento equilibrado da sociedade e da economia. Em vários empreendimentos, temos diversas iniciativas como energia solar, reflorestamento, permeabilidade, captação e reutilização de água de chuva", diz. 

Testemunha da transformação urbana
De um simples carrinho, o salto para um trailer. Em seguida, a construção do prédio que abriga o Baixinho Lanches, na Avenida Marechal Deodoro. E toda essa transformação foi vista de perto por uma testemunha que ainda era menina, há 43 anos.

Na calçada, em frente ao estabelecimento, está plantada uma bela e vigorosa Chapéu de Couro, também conhecida como Sete Copas ou Coquinho. E na fachada, algo chama a atenção: a cobertura para melhor atender a clientela foi feita, mas cuidadosamente moldada para circular o tronco da árvore. "Ela era pequena quando abri o lanche e busco sempre zelar dela", fala o proprietário Genésio Dias da Costa. 

Foto: Rogério Mative/Portal

"A gente decidiu não mexer com ela, pois dá uma sombra boa e muito gostosa no verão. Quando foram fazer a cobertura, meu pai pediu para colocar de uma forma que não prejudicasse a árvore. Tem gente que não gosta dela por causa das folhas, mas não ligamos. Varremos, e pronto. Muita gente vê a parte estética do estabelecimento e nós pensamos diferente. Não queremos perder a sombra dela", frisa Andréia Cristina da Costa, filha do Baixinho. 

Foto: Rogério Mative/Portal

Paixão à primeira vista
Na Avenida Washington Luís, uma árvore da espécie Chapéu de Couro despertou o início de uma amizade antes mesmo da reforma do prédio que abriga o bistrô Fulô de Mandacaru. "A árvore foi paixão à primeira vista, pois já imaginei as mesas embaixo dela. Ela faz uma sombra maravilhosa em toda a fachada e brinco que é minha amiga. Não ligo para a sujeira das folhas, pois a sombra e a beleza dela somam muito ao restaurante deixando a frente mais linda e aconchegante", relata proprietária e chef Simone Lebedenco Alessi.

Foto: Rogério Mative/Portal

Segundo ela, os cuidados com a árvore começaram durante a concepção do espaço gastronômico, há 11 anos. "Queríamos recuperar o aspecto original do imóvel, como o piso de madeira, a lajota do caixa, com cuidado para não danificar as paredes estruturais com tijolos de barro. Ao mesmo tempo, coloquei iluminação na árvore e fechamos o canteiro em volta dela, além de plantar algumas flores ao redor", relembra.

"Sempre estamos de olho nela, atentos a pragas e doenças que possam atacar a árvore. Não gosto muito de podas, faço somente em último caso. E, sempre estou regando-a diante do calor que faz na cidade".

Preocupação com podas na árvore que virou ponto turístico
A união da arquitetura dos anos 40 com o frondoso Flamboyant ditou o charme ao espaço que abriga o Tacchino Ristorante desde 1993, na Avenida Whashington Luís. "O que a gente acha curioso é que se tornou um ponto turístico. Durante o dia, muita gente vem para tirar fotos, com as crianças nas raízes da árvore. Ela é admirada por todo mundo que passa pela avenida, é uma referência na cidade", diz, com orgulho, o proprietário André Luís de Almeida.

Foto: Maycon Morano/Cedida

"A árvore já estava desde quando o local era a residência da família do Francisco Jacinto. Não sabemos quem a plantou. No projeto original, o restaurante não tinha a parte externa. Depois de alguns anos, meu pai [Paulo Roberto de Almeida] fez a expansão para a área externa, que hoje é a entrada principal, dando mais foco ao Flamboyant", detalha.

Apesar de todo zelo com a espécie, André Luís teme pela morte do Flamboyant diante das várias podas sofridas para abrir espaço aos fios de energia, o que descaracterizou sua copa.

"Fazemos adubação e as podas necessárias sempre tomando cuidado com pragas. O único 'porém' que a gente enxerga hoje é a poda feita em função da fiação elétrica. Fazem uma poda muito agressiva, um V violento que coloca em risco a árvore. A gente acha que um dia a árvore pode morrer por isso", lamenta.

Foto: Maycon Morano/Cedida

Em nota, a concessionária Energisa alega que as podas realizadas pela empresa têm como objetivo desobstruir os fios da rede elétrica do contato com os galhos das árvores. "A concessionária reforça que manter a vegetação longe da rede elétrica é uma medida de segurança para todos".

Pensam diferente...
Apesar dos bons exemplos espalhados pela cidade, são 32 denúncias de envenenamento de árvores em nove meses deste ano, sendo 12 apenas em setembro.

Um dos casos em investigação está na Avenida Coronel José Soares Marcondes, nos altos do Jardim Aviação, onde uma espécie Farinha-Seca secou misteriosamente nos últimos dias após doar, por vários anos, sombra e ar purificado. No tronco, vários furos são vistos - um deles contava com um pino improvisado como disfarce. 

Foto: Rogério Mative/Portal

"A maioria das autuações que a gente faz é por meio de denúncia da própria população. Na maioria dos casos, o envenenamento é feito por um tipo de herbicida conhecido. A pessoa faz um furo com a furadeira e introduz o líquido no tronco. Ele é bem mortal; em poucos dias a árvore acaba secando e morrendo", explica o secretário municipal de Meio Ambiente, Bill Paschoalotto.

Foto: Rogério Mative/Portal

Das 32 denúncias, 20 pessoas acusadas de envenenamento foram autuadas. "As demais não foram autuadas devido a casos em que a árvore acaba morrendo por outros motivos; às vezes, ela nem está morta, apenas passa pelo seu período de recomposição após perder as folhas no inverno", finaliza.

É crime
De acordo com a Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, é crime “destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia”. As penas previstas variam de uma simples multa até a detenção de três meses a um ano.

A denúncia pode ser feita de forma anônima pelos seguintes canais: Secretaria de Meio Ambiente, pelo telefone (18) 3906-5275; Polícia Militar Ambiental, pelo telefone (18) 3906- 9200.



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