Funcionário da Saúde transporta corpo de uma vítima do coronavírus em Manaus, Amazonas, na tarde desta sexta-feira (17) — Foto: REUTERS/Bruno Kelly
Agora, ela começa a se multiplicar dentro dessas cidades que foram atingidas. Das 65 cidades que se enquadrariam na categoria "em emergência", 50 estão no interior dos estados.
Para o professor da USP e membro do comitê de combate ao coronavírus da OMS João Paulo Dias de Souza, o contágio crescerá nesses lugares de forma parecida com o crescimento visto nas capitais, mas não eles não têm a mesma estrutura para tratar os doentes.
“Teremos de conviver com esse problema por um tempo ainda. É possível que o interior viva um aumento da curva epidêmica, semelhante à dos grandes centros, nas próximas duas semanas”, disse.
Falta de leitos
A maior preocupação dos especialistas é com a capacidade do sistema de emergência de saúde nesses locais. Muitas cidades têm poucos leitos disponíveis.
Quando os municípios chegam ao limite, seus pacientes acabam procurando o sistema de saúde de cidades próximas. Além disso, muitas delas já atuam como polo para a sua região, agregando naturalmente pacientes das cidades vizinhas.
“O risco é as pessoas começarem a morrer em casa, como foi no Amazonas. Quando falamos de um lugar pequeno, 10% da capacidade de leitos significa pouquíssimas unidades disponíveis”, diz Domingos Alves.
O Amazonas tem 97% dos leitos de UTI ocupados e, em Manaus, 36 das 106 pessoas sepultadas um dia (20) morreram em casa.
A superlotação não é um problema exclusivo do Amazonas. Outros três dos seis estados com maior número de municípios em emergência estão com a capacidade no limite: o Ceará tem 100% de ocupação, Pernambuco tem 95% e o Rio de Janeiro, 74%.
Subnotificação de casos
Outra preocupação é com a subnotificação, já que os dados oficiais balizam as decisões políticas e sanitárias.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou subnotificação ao registrar um aumento expressivo nas internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) neste ano em comparação com a média dos últimos dez anos. Os pacientes testaram negativo para outros vírus, e o perfil dos internados é o mesmo das vítimas da Covid-19.
A falta de testes e a fila de mais de 20 mil casos de SRAG ainda em investigação, segundo o último boletim do Ministério da Saúde, também apontam para um número real de infectados maior que o registrado.
“Os gestores estão olhando para esses dados defasados para tomar decisões, mas é um dado de duas semanas atrás. E por isso não sabem quais adequações terão que fazer. Os municípios não conseguem estimar, por exemplo, de quantos leitos vão precisar amanhã ou daqui a duas semanas”, argumenta Domingos Alves.
Isolamento social
A alta concentração de casos em relação ao número de habitantes reflete uma política de isolamento que não foi totalmente implantada em muitos municípios, de acordo com os especialistas. No começo de abril, quase 60% do país estava em isolamento, segundo levantamento da empresa de softwares In Loco em parceria com a USP. No meio do mês, a média girou em torno dos 50%.
"É muito mais difícil de ser feito em cidades mais afastadas das capitais. O pessoal está na rua. Por mais que tenha havido uma política oficial de isolamento, não houve a freada que vemos em grandes centros, como São Paulo", diz Dias de Souza.
Veja as cidades com coeficiente de incidência de casos de coronavírus 50% acima da média nacional:
Coeficiente de incidência de Covid-19 nas cidades brasileiras
Cidade | Casos | Coeficiência de casos |
Manacapuru - AM | 321 | 329,65 |
Santo Antônio do Içá - AM | 62 | 287,01 |
Braço do Norte - SC | 92 | 275,04 |
Carauari - AM | 66 | 233,27 |
Fortaleza - CE | 5538 | 207,47 |
Iranduba - AM | 99 | 204,99 |
São Luís - MA | 2149 | 195,03 |
Macapá - AP | 708 | 140,66 |
Manaus - AM | 2899 | 132,81 |
Marau - RS | 57 | 129,07 |
Tabatinga - AM | 84 | 127,57 |
São Paulo - SP | 15397 | 125,67 |
Vitória - ES | 450 | 124,28 |
Recife - PE | 2018 | 122,62 |
Careiro - AM | 46 | 121,47 |
Ilhéus - BA | 193 | 118,9 |
Autazes - AM | 47 | 118,79 |
Santos - SP | 495 | 114,24 |
Vila Velha - ES | 555 | 112,39 |
Rio Preto da Eva - AM | 36 | 107,96 |
Itaitinga - CE | 41 | 107,95 |
Parintins - AM | 119 | 104,14 |
Camaragibe - PE | 161 | 102,01 |
Maués - MA | 65 | 101,71 |
Santo Antônio do Tauá - PA | 32 | 101,65 |
Itacoatiara - AM | 103 | 101,64 |
Itacoatiara - AM | 36 | 99,23 |
São Lourenço da Mata - PE | 110 | 97,15 |
Santana - AP | 117 | 96,4 |
Serra - ES | 495 | 95,65 |
São José de Ribamar - MA | 167 | 93,99 |
Osasco - SP | 646 | 92,49 |
Barueri - SP | 253 | 92,27 |
Eusébio - CE | 49 | 91,39 |
Belém - PA | 1341 | 89,83 |
Boa Vista - RR | 352 | 88,17 |
São Caetano do Sul - SP | 138 | 85,65 |
Olinda - PE | 334 | 85,1 |
Rio de Janeiro - RJ | 5554 | 82,66 |
Camboriú - SC | 68 | 81,94 |
Mesquita - RJ | 142 | 80,63 |
São Paulo de Olivença - AM | 31 | 78,88 |
Paulista - PE | 250 | 75,35 |
Lajeado - RS | 63 | 74,99 |
Itabuna - BA | 159 | 74,57 |
Volta Redonda - RJ | 202 | 73,99 |
Aquiraz - CE | 59 | 73,5 |
Paço do Lumiar - MA | 88 | 72,01 |
Franco da Rocha - SP | 111 | 71,85 |
Coari - AM | 58 | 68,16 |
Caucaia - CE | 244 | 67,52 |
São Bernardo do Campo - SP | 566 | 67,47 |
Caieiras - SP | 68 | 67,01 |
Rio Branco - AC | 272 | 66,78 |
Florianópolis - SC | 334 | 66,67 |
Concórdia - SC | 49 | 65,65 |
Laranjal do Jari - AP | 33 | 65,46 |
Maceió - AL | 656 | 64,38 |
Passo Fundo - RS | 129 | 63,46 |
Balneário Camboriú - SC | 90 | 63,25 |
Cariacica - ES | 234 | 61,37 |
Santana de Parnaíba - SP | 85 | 60,96 |
Maracanaú - CE | 138 | 60,56 |
Santo André - SP | 420 | 58,43 |
Santa Izabel do Pará - PA | 41 | 57,91 |
Ariquemes - RO | 62 | 57,48 |
Cotia - SP | 143 | 57,38 |
Porto Velho - RO | 300 | 56,65 |
Diadema - SP | 239 | 56,38 |
Nova Lima - MG | 53 | 55,85 |
Salvador - BA | 1592 | 55,43 |
Taboão da Serra - SP | 160 | 55,24 |
Horizonte - CE | 37 | 54,95 |
Niterói - RJ | 282 | 54,91 |
Pacatuba - CE | 45 | 53,94 |
João Pessoa - PB | 436 | 53,89 |
Jaboatão dos Guararapes - PE | 374 | 53,25 |
Criciúma - SC | 113 | 52,51 |