A distribuição de gás biometano poderá proporcionar uma economia de até 45% com gastos de combustíveis em Presidente Prudente e Pirapozinho, a partir do ano que vem. Além da redução do valor gasto com transporte, a oferta de mais uma fonte de energia no Oeste Paulista pode baratear ainda os custos de estabelecimentos comerciais e residências.
O gás será obtido a partir da queima de resíduos de cana-de-açúcar na usina Cocal, em Narandiba, e chegará até Presidente Prudente e Pirapozinho através de dutos, que levarão o gás até postos de combustíveis, casas, empresas e indústrias.
As duas cidades do Oeste Paulista serão as primeiras do país a contar exclusivamente com abastecimento de gás biometano, gerado a partir da cana.
As outras cidades que contam com gás são abastecidas por um gasoduto que obtém a energia diretamente da Bolívia – e que não passa na região de Presidente Prudente.
Levando em consideração os preços, em média, dos combustíveis para veículos leves praticados atualmente em Presidente Prudente e o valor do Gás Veicular Natural (GNV) encontrado em outras cidades do Estado, o motorista da região poderia economizar, hoje, em torno de 45% na hora de encher o tanque do carro.
Para andar 100 km, por exemplo, um carro consumiria, nos preços atuais, R$ 44,30 de gasolina, R$ 42,14 de etanol e R$ 24,21 de gás.
O governo paulista, a GasBrasiliano – empresa que detém os direitos de distribuição de gás em diversas cidades do Estado – e a usina Cocal estimam que mais de 230 mil pessoas sejam beneficiadas.
A previsão é de R$ 160 milhões em investimentos, sendo R$ 30 milhões da GasBrasiliano e R$ 130 milhões da Cocal.
A usina vai produzir o gás através da biodigestão do bagaço, da vinhaça e da palha da cana. Após este processo, o gás chegará por meio de tubulações, que serão viabilizadas de acordo com a demanda dos consumidores.
A GasBrasiliano deve construir cerca de 65 km de rede de distribuição entre Narandiba, Pirapozinho e Presidente Prudente.
O diretor-presidente da empresa, Walter Fernando Piazza Júnior, afirmou ao G1 que, diferentemente de outras regiões de São Paulo, o Oeste Paulista não conta com o gasoduto Bolívia-Brasil e, por isso, foi necessário viabilizar uma outra fonte de energia.
De acordo com ele, houve uma prospecção de novos clientes e ficou comprovado, segundo pesquisas, que a cidade tem totais condições de absorver este novo produto.
“Prudente é polo de desenvolvimento regional. Tem muitas empresas, indústrias e uma população considerável. Há demanda e, por isso, vamos viabilizar [o gás]”, disse.
Piazza Júnior falou ainda que haverá um aumento da competitividade no comércio e na indústria, já que o gás é mais barato do que os combustíveis consumidos atualmente.
Na fase de obras só da rede de distribuição, a GasBrasiliano informou que devem ser abertos 150 empregos diretos.
André Gustavo Alves da Silva, controller da Cocal, afirmou que a usina identificou a potencialidade da região e, por isso, entrou no projeto.
A Cocal prevê moagem de 8,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2019/20 nas usinas de Narandiba e Paraguaçu Paulista. Em Narandiba, onde o gás é produzido, a empresa vai usar os resíduos de cerca de 5 milhões de toneladas.
As duas usinas empregam, hoje, 4,8 mil trabalhadores. São mais de 130 mil hectares de cana plantados na região.
A previsão é de que a usina produza 67 milhões de metros cúbicos de gás por ano.
“Nossa região tem uma boa demanda por gás. Muitas empresas e indústrias podem usar. Essa necessidade foi amplamente detectada e, agora, vamos investir nisso”, afirmou.
O biometano é considerado pelo mercado uma alternativa econômica e ambientalmente viável para incrementar e diversificar a matriz energética nacional.
“Será possível explorar mais uma forma de energia proveniente da cana-de-açúcar. O objetivo é transformar os resíduos do processamento em biometano e promover o desenvolvimento sustentável. Poderemos gerar emprego, renda e também contribuir com o meio ambiente”, disse o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Marcos Penido, durante o lançamento do projeto na Agrishow, a maior feira agropecuária da América Latina, em Ribeirão Preto, nesta terça-feira (29).
O diretor-presidente da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp), Hélio Castro, que esteve presente no lançamento, afirmou que uma deliberação (nº 744), de 2017, regulamentou a distribuição de biometano na rede de gás canalizado do Estado.
As licenças, de acordo com as empresas, serão concedidas à medida em que as obras forem projetadas.
Aplicações
O gás pode ser usado em veículos, mas, para isso, é necessário que o proprietário do carro instale um kit, com investimento que gira em torno de R$ 4 mil.
Em casas e apartamentos, por exemplo, o gás pode ser usado para aquecer chuveiros, um cômodo ou uma piscina. Também pode ser usado em sauna, secadores de roupa e aparelhos de ar-condicionado que funcionam exclusivamente a gás.
Na indústria, o gás pode ser usado, por exemplo, no aquecimento de caldeiras a vapor, na geração de água quente ou gelada, no aquecimento de fornos, na climatização de ambientes, no aquecimento de estufas, em incineradores e na cogeração de energia elétrica.